Burton Malkiel, em seu livro Random Walk Down Wall Street, cita que a definição de risco é um dos temas mais difíceis de se fazer investidores concordarem com uma única. Recorrendo a outros meios, alguns dicionários definem risco como “possibilidade de sofrer um dano ou uma perda”. O dicionário Michaelis define como “Possibilidade de perigo, que ameaça as pessoas ou o meio ambiente”, e continua “Probabilidade de prejuízo ou de insucesso em determinado empreendimento “. Pela teoria moderna de portfólio, risco é chamado de Beta e ajuda a medir a possibilidade de retorno.
Bom, o fato que definir risco é complicado e já se tentou de diversas formas. Na academia, com a chegada da Teoria Moderna do Portfólio, se chegou ao consenso que risco é a dispersão dos retornos. O QUE!?
Abstraindo
Imagina o seguinte. Você vai no supermercado, compra todo mês um carrinho de compras cheio, com os mais diversos produtos que você precisa no seu dia a dia. Esse carrinho certamente vai ter seu valor variando, mês a mês, porque muito dificilmente todos os produtos se mantêm estáveis ao mesmo tempo, de um mês para o outro.
Bom, o carrinho de compras, com esses produtos todos, simboliza o mercado onde eu compro, como um todo, e as oscilações de preços naquele mercado. A variação de preços do carrinho é alterado justamente ao incorporar todas as variações de preço dos produtos que eu adquiro. Então, olhando só pra ele, como um objeto único, dá pra dizer que ele também tem uma variação de preços própria, fruto dessa composição de produtos.
Risco e supermercado
Qual risco existe pra mim, em relação aos preços do supermercado?
Bom, certamente o risco é eu pagar muito mais caro por um produto, e no dia seguinte ele estar mais barato. Concorda?
Então, a variação de preço é na verdade risco pra mim. Risco de comprar caro em um dia, e no dia seguinte ela ficar mais barata, devido à uma variação brusca. Matematicamente falando, quanto maior as variações nos preços de um item, ao longo dos dias, mais risco disso acontecer. Então matematicamente, pra mim o risco seria algo simbolizasse essa variação dos preços ao longo dos meses.
Alguns exemplos: O arroz é um item low risk, pra mim. Eu pelo menos andei notando que o arroz é mais estável. Acredito que há muitos produtores, então o preço não varia muito, acompanha de modo geral as oscilações do meu carrinho com um todo, as vezes ele nem oscila o preço, mas o carrinho tá lá, ficando caro. Porém, a carne é terrível. Um mês está R$39,90 o quilo da picanha, no mês seguinte lá vem um aumento e começa a ser vendida por R$59,90. A variação de preços da carne é intensa, o que trás um risco grande de eu comprar e ficar barato no dia seguinte. Ou ainda eu deixar de comprar e ficar mais caro ainda!
O risco sistemático do mercado
Lembra do meu carrinho? Se o preço dele subir esse mesmo tanto que a picanha subiu, então ela não oscilou por culpa própria. O mercado (pela definição da minha lista de compras), como um todo, pode ter ficado caro. É um risco sistemático, que pode atingir todos os produtos.
Sendo assim, o risco da carne não é a dispersão dela isolada, mas sim variação do preço dela, comparando com as variações do carrinho também. Se eu vou num mercado onde o preço da minha cesta básica oscila muito, então talvez a oscilação da picanha seja um reflexo do meu mercado volátil. Talvez seja um sinal que o meu mercadinho perto de casa é instável. Então, como eu vou saber se a carne é mais volátil que o carrinho de compras? Eu teria que entender então o comportamento dos dois, comparando em conjunto. Na matemática então são dois interesses: como eles co-variam e como a carne varia isoladamente.
O que isso tem a ver com mercado financeiro?
Trazendo pro mercado financeiro, isso que eu quero descobrir se chamaria de Beta, o quanto o preço de um produto específico varia, em comparação ao mercado como um todo. O Beta então simboliza o quanto uma ação varia, em comparação ao quanto o mercado varia.
DEFINIÇÃO MAIS TÉCNICA: O Beta de uma ação representa a covariância da ação em relação ao mercado, sobre a variância da própria. Muitos aceitam Beta como sendo o risco da ação oscilar e você não ter o retorno que você espera.
Pela Definição Moderna de Portfólio, o Beta (risco) definiria o meu retorno. Se há uma variação do mercado como um todo, o que define o meu retorno não é o risco sistemático (variação do mercado), mas sim a variação daquele ativo em relação ao mercado (risco não sistemático, ou risco específico). Pela definição, quanto mais risco, maior a chance de retorno.
Bom, isso implicaria dizer que toda e qualquer informação está contida no preço da ação, e é aceitar a teoria do mercado eficiente (assunto pra uma próxima) e que a volatilidade do preço (sacolejo, ou indecisão dos compradores e vendedores, trocando freneticamente os papéis) é a demonstração de risco. Bom, retorno estáveis tendem a trazer um preço menos volátil nas ações, fazendo o beta capturar esse risco.
Porém, nem tudo o Beta captura. Isso porque, mesmo a definição de mercado é difusa. Qual carrinho de compras é o ideal pra representar o meu mercadinho? Difícil né? Então o mesmo ocorre para o mercado de ações. Segundo Malkiel, mudanças nos juros também afetam o beta. Então, isso é uma longa discussão, que não envolve só os acadêmicos.