Muita gente chega no meu Instagram me perguntando sobre indicadores e valuation, com conclusões sobre diversas empresas. Porém isso me parece muitas vezes uma atividade que deveria ser secundária, já que a análise qualitativa é mais do que fundamental para se entender o que acontece com o preço.
Por esse motivo, resolvi fazer posts com comentários curtos sobre como analisar qualitativamente uma empresa, usando números fáceis e de jeito simplificado, de forma que se consiga entender um pouco do valor produzido pela empresa e seus riscos. Hoje começo com analise da receita líquida.
A receita líquida
Qual atividade principal da empresa?
Vamos pegar como exemplo a AbbVie (ABBV). Supomos que eu não sei absolutamente nada sobre a empresa, nem sobre a indústria farmacêutica. Certo, a primeira coisa a fazer é entender de onde vêm a grana, ou seja, qual a atividade principal da empresa, para que surjam dúvidas. A resposta encontramos no próprio site: a empresa cria fármacos.
Certo. Já dei o primeiro passo, sei que a empresa cria fármacos. Mas, afinal, esses fármacos são de que tipo? Porque se forem simples, a única vantagem competitiva seria a escala. Do contrário pode haver alguma outra vantagem competitiva.
Dando mais uma investigada rápida no Google e no próprio site da empresa, vejo que são produtos oncológicos, produtos para doenças autoimunes e relativos ao sistema nervoso / neural. Então a empresa tem como principal atividade principal a criação de fármacos, gerando patentes. A empresa é uma Biofarmacêutica, tendo como vantagem competitiva as patentes (e possivelmente a escala também).
Resta uma dúvida que deixo em aberto, para você pesquisar: a empresa apenas pesquisa os fármacos ou também faz a manufatura deles?
Um passo a diante
Ok. Em posse dessas informações, eu já posso olhar números. Agora eu preciso entender como se divide a receita, entre os fármacos que ela produz. Perguntas que eu gostaria de saber a resposta:
- Há concentração da receita em cima de algum produto / patente?
- Há concentração da receita por país?
Repare no quadro abaixo, retirado do site da AbbVie ( documento 10-k):
Assim, ao olhar o quadro acima, você percebe que à distribuição geográfica da receita da empresa há uma concentração nos EUA, sendo este responsável por aproximadamente 60% do faturamento líquido.
Já com relação à distribuição da receita por medicamento, você chegará à conclusão que o Humira corresponde a mais de 50% da receita da AbbVie. Logo, a receita líquida da empresa é altamente concentrada nesse fármaco.
“Será que isso é bom ou ruim?”. Essa não é uma boa pergunta a se fazer. Lembre-se sempre que para progredir em algo, a qualidade das suas perguntas tem que melhorar com o tempo.
Melhorando as perguntas
Temos duas afirmações respondidas: a AbbVie cria patentes e produz fármacos, mas possui mais de 50% da receita em cima de um único fármaco – o Humira. Então, a próxima pergunta deveria evoluir desse ponto:
Há algum risco nesse fármaco que a AbbVie possui patente e corresponde à 50% da receita?
Quais riscos na receita?
O maior risco na receita, nesse caso, é a própria patente. Uma pesquisa rápida no Google se descobre que uma patente geralmente dura entre 10~25 anos. Porém eu posso ser mais específico e colocar “Humira Patent” na pesquisa:
Uma infinidade de notícias relacionadas a patente, que parece estar causando grandes disputas. Como aqui não é o objetivo divagar sobre a AbbVie e Humira, mas apenas falar sobre “investigação de empresas”, vou manter o mais sucinto possível.
Mas explicando de forma simplória, a AbbVie está sofrendo uma pressão nessas patentes do medicamento (que não é uma única patente, mas centenas). O custo para os pacientes é altíssimo e inflacionário. Mais do que isso, a AbbVie é acusada de criar barreiras para que seja possível a entrada no mercado de biossimilares. Há indícios que em 2023 entre no mercado alguns concorrentes similares.
Para mais infos sobre isso, acesse esse site.
Conclusão
Entender a receita é o primeiro grande passo para entender a empresa como um todo. Para isso começamos com uma série de perguntas:
- Qual atividade a empresa realiza (origem da grana)?
- Qual especialidade dessa atividade?
- Qual vantagem competitiva e características dessa atividade?
- Como é a divisão da receita? É concentrada ou dividida?
- Qual os riscos da divisão atual da receita e da atividade em si?
Aos poucos as suas perguntas se torna mais profundas e você conhece cada vez mais da empresa.
Como dito, esse é um primeiro artigo rápido sobre como analisar uma empresa.
Deixe seu comentário se você gostou desse formato.
De acordo com feedbacks dou sequência à série.
Top demais Investidor, uma das grandes dificuldades é criar um “check list” do que observar nas companhias.
Valeu Matheus, seguimos nos próximos posts.
Mandou muito bem! Explicou tudo e ainda deu i passo a passo! Excelente conteúdo ! Muito obrigado
Fernando, eu que agradeço pelo comentário!
Muito claro e didático! Parabéns!
Carla, obrigado pelo feedback!
Esta visão de empresa é muito interessante e ao mesmo tempo profunda.
Luiz Muito obrigado pelo comentário!
Muito interessante o conteúdo. Já me da um norte de onde começar a estudar!
Valeu pelo comentário Gustavo!