Você deve ter notado nos últimos resultados de bancos uma gama de resultados com lucros muito menores. Isso se deve às provisões para possíveis devedores, um ajuste necessário no balanço do banco para que ele tente manter a saúde financeira. Mas você sabe por que as provisões em bancos aumentam?
Provisão
Na contabilidade, a provisão tem o objetivo de cobrir um custo ou despesa cuja possibilidade de ocorrência seja grande. É o famoso calote que o banco pode tomar. Assim, provisões contábeis são despesas estimadas para calotes, que para fins de contabilidade são registradas como ocorridas, atualizando o status financeiro do banco.
Por que a provisão é feita
Simplificando, imagine o seguinte exemplo: eu tenho um banco onde um cliente (1) depositou R$500, fazendo com que eu tenha um total de R$1000 em mãos. Um segundo cliente (2) vai até o banco e pega um empréstimo de R$500. Essa pessoa deverá pagar R$600 em até 60 dias – os R$500 acrescido de juros. Logo, o nosso banco tem R$600 em contas a receber, além de ter R$500 disponível. Ok até aqui?
No 90º dia uma terceira pessoa (3) deseja fazer um empréstimo de R$500. Pelo meu balanço, o banco tem R$1100 em ativos (R$500 em caixa + R$600 em contas a receber). Porém, o primeiro cliente não pagou ainda os R$600 e já se passaram todos os 60 dias de empréstimo. Será que eu devo emprestar o que me resta ou eu deveria contabilizar aquela grana como possível perda e pensar no caso?
Pois é mais ou menos isso que ocorre com as provisões em bancos. Já imaginou o caos que seria o banco (ou empresa) contando com ativos que não podem ser retomados? Pois é justamente essa a função de provisão de devedores duvidosos – ajustar o balanço da empresa para que contabilize aquela possível “perda” nos ativos, criando uma despesa na DRE.
Exemplo do Bradesco
Repara no exemplo do Bradesco (figura abaixo), que primeiro a Despesa vem na DRE – no caso a demonstração de resultado do período – e depois como um item no Balanço Patrimonial, para este refletir a situação de possíveis inadimplências. Assim, a despesa é computada na DRE do atual trimestre, ajustando assim o balanço de forma adequada.
Repara que na linha Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) no balanço patrimonial o valor se refere ao que o banco espera não receber de seus clientes – que “estão com parte de seus ativos”.
Provisões não são despesas ocorridas de fato
Crises e atividade econômica fraca podem fazer com que bancos tenha que ter mais cuidado com sua saúde financeira, pois as pessoas tendem a não cumprirem compromissos, como dívidas. Logo, a provisão é uma forma de precaução, mas não é algo que pode não ocorrer de fato.
Provisão serve para evitar que o banco se exponha demais ou que perca controle de sua situação financeira. Sendo a provisão uma previsão e uma precaução, pois como vimos não é certo que elas ocorrerão. Aliás, pode ser que a maioria das perdas estimadas não ocorram de fato ao longo do tempo, fazendo com que esse valores “retornem” ao balanço. Nesse caso, a conta provisões daria baixa e o valor entraria como receita na DRE em trimestres futuros.
Vale lembrar que provisões são determinas de forma gerencial, logo eu acredito que não há cálculo que o investidor comum possa fazer para prever o quanto de provisão será feita pelos bancos. Muito depende da carteira de crédito e do prazo considerado, além da própria gerência, para definir essa despesa.
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Olá!
E isso que uma das medidas do Bacen no início da crise foi dispensar o PDD para renegociação de devedores em dia.
https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/medidasdecombate_covid19
Achei bom teres salientado que não se trata de despesa, mas sim de um lançamento puramente contábil, alguns confundem.
P.S.: Já pensou em fazer algum post sobre o Acordo de Basileia?
Abraço!
Obrigado pelo comentário Christian!