Quantas vezes você se deixou levar por percepções superficiais ou se deixou levar por opinião de terceiros? Eu confesso, com frequência isso aconteceu. Seja por ignorância própria ou de terceiros (que no fim é assumir a sua própria), o fato é que me deixei levar e ter uma percepção cega.
Existe uma parábola que se encaixa nessas percepções do investidor – e na vida como um todo. É a parábola do elefante e o grupo de cegos, que já contei no Instagram mas apresento aqui na versão de poema, escrita por John Godfrey Saxe:
Os Cegos e o Elefante – por John Godfrey Saxe
Eram seis homens do Hindustão
Inclinados para aprender muito,
Que foram ver o elefante
(Embora todos fossem cegos)
Que cada um por, observação,
Poderia satisfazer sua mente.
O Primeiro aproximou-se do Elefante,
E aconteceu de chocar-se
Contra seu amplo e forte lado
Imediatamente começou a gritar:
“Deus me abençoe, mas o Elefante
E´semelhante a um muro”.
O Segundo, pegando na presa,
Gritou, ” Oh! O que temos aqui
Tão redondo, liso e pontiagudo?
Para mim isto é muito claro
Esta maravilha de Elefante
è muito semelhante a uma lança!”
O Terceiro aproximou-se do animal
E aconteceu de pegar
A sinuosa tromba com suas mãos.
Assim, falou em voz alta:
“Vejo”, disse ele ” o Elefante
É muito parecido com uma cobra!”
O Quarto esticou a mão, ansioso
E apalpou em torno do joelho.
“Com o que este maravilhoso animal
Se parece é muito fácil”, disse ele:
“Está bem claro que o Elefante
É muito semelhante a uma árvore!”
O Quinto, por acaso, tocou a orelha,
E disse: “Até um cego
Pode dizer com o que ele se parece:
Negue quem puder,
Esta maravilha de Elefante
É muito parecido com um leque!”
O Sexto, mal havia começado
A apalpar o animal,
Pegou na calda que balançava
E veio ao seu alcance.
“Vejo”, disse ele, “o Elefante
é muito semelhante a uma corda!”
E assim esses homens do Hindustão
Discutiram por muito tempo,
Cada um com sua opinião,
Excessivamente rigida e forte.
Embora cada um estivesse, em parte, certo,
Todos estavam errados!
Escritórios
Há algumas semanas venho estudando sobre lajes corporativas, escritórios e real estate em geral. No início da crise eu tinha um único fundo imobiliário de laje – meia duzia de cotas – que acabei vendendo para comprar algo mais descontado na época. Mas, a minha percepção sobre esse tipo de ativo mudou ao longo da crise, já do mercado eu não sei se posso dizer o mesmo.
Se você olhar para cotação apenas, sem olhar fundamentos, hoje podemos dizer que a percepção de valor do mercado sobre lajes corporativas ainda é pessimista quando comparada com fim do ano passado. A ideia do post não é discutir sobre lajes em si, mas falar sobre a percepção de valor. Repara no gráfico do HGRE11 como exemplo:
Você olha para o fato?
“Se estou olhando através de um vidro de idéias, eu não estou olhando para o fato.”
Jiddu Krishnamurti
Se estou olhando através de um vidro de idéias, eu não estou olhando para o fato. Essa é uma frase que gosto muito, dita por Krishnamurti – se você não conhece sobre ele, recomendo fortemente. Essa frase muito se assemelha à ideia de “first order thinking” e “second order thinking” que o investidor Howard Marks traz para o mundo dos investimentos em seu livro.
“First Order Thinking” – o pensamento de primeira ordem – é rápido e fácil. Isso acontece quando procuramos algo que só resolve o problema imediato sem considerar as consequências. Por exemplo, você pode pensar assim quando vai ao supermercado com fome e acaba comprando coisas que não são tão saudáveis.
Já o “second order thinking” – pensamento de segunda ordem – é mais deliberado. É pensar em termos de fatos, observar o comportamento, é sobre entendimento. Os pensadores de segunda ordem a pergunta vão ao supermercado com fome, pegam a barra de chocolate na mão e pensam “e depois o que acontece?”. Isto é, pensam nas consequências de comer aquilo e não se deixam levar por um ato desenfreado.
Lajes vão seguir existindo?
Repara um post que compartilhei do Danilo Bastos, uma das pessoas que me ajudaram a entender sobre FIIs. Analise o fato descrito.
Você pode criar ideias mentais sobre escritórios e ver todo o mercado sobre a lente dessas ideias, que você mesmo criou ou pegou emprestado – as vezes o mais frequente. É fácil e rápido. Mas, no exemplo, a compra de 2 conjuntos pelo PATC11 é uma fato que você pode analisar, possibilitando entender coisas como “existe algo barato ou caro?”, “isso é um indício do fim dos escritórios?”, “existe valor ainda?”.
Pense, como você analisa essa informação? Esqueça as dicas (muito boas) do Danilo e tente pensar sozinho antes de prosseguir.
Como eu lidaria com os fatos? Nada de ideia mental, direto prática. Descobriria o valor do m² pago pelo conjunto de Edifícios The One, compararia com o valor do m² da bolsa (usando tanto FIIs quanto ações de escritórios), calcularia quanto o mercado está pagando pelos ativos. Quem sabe até procurar por barganhas, que estivessem com valor de bolsa menor do que o valor que o mercado tem pago. Ou ainda, apenas pensaria sobre a decisão do PACT11 pra entender se não estou vendo esse setor usando um “filtro” errado.
Entende como funciona uma um pensamento de segunda ordem? Entende também que ele não é instantâneo e fácil? Não tenha uma visão de curto prazo, analise os fatos, não tenha ideias soltas sobre eles, pois elas vão criar algo que não é a realidade. Sua percepção de valor irá mudar, para melhor.
Muito bom! Quero mais
Muito bom!! Quero mais
Obrigado Katia!
Muito bom, quero mais! [2]
Muito obrigado!
Visão incredible. Essa quebra de pensamentos alienados é de extrema valia tanto pro mercado como vida, fazendo você buscar os seus critérios para uma análise de acordo com seu perfil, e não uma visão pincelada sobre o assunto.
Material showw!!
Valeu!!