Nas últimas semanas, tenho estudado algo que li em livros (como esse do David Swensen) mas nunca fui muito a fundo na prática: estudar os impactos das decisões da asset allocation e fazer backtests em carteiras. Como você sabe, aqui a economia é frágil, então resolvi fazer esses testes para entender o impacto de não se expor ao exterior.
Etão, nesse artigo eu quero mostrar o quão frágil é se expor só ao Brasil (através de IBOV ou ativos muito correlacionados com índice) e o quanto é importante ter um pouquinho de exterior na carteira.
Asset Allocation
Antes vamos definir alguns conceitos. A alocação de ativos dentro de um portifolio, a asset allocation, é uma importante parte das decisões de um investidor, pois é estratégia que ele segue dentro de sua carteira, ao distribuir os ativos de acordo com seus objetivos. Dessa forma, além de equilibrar o risco e o retorno, ajusta o portifólio a sua tolerância à perda.
As três principais classes de ativos são ações, renda fixa e caixa – têm diferentes níveis de risco e retorno, portanto, cada uma se comportará de maneira diferente ao longo do tempo. Assim, a principal ideia ao estudar o asset allocation é procurar diminuir o risco (variação de performance e drawdown) e aumentar o retorno. Isso pode ser estudado através de backtests.
Dicionário
drawdown: expressa a porcentagem de queda de valor de um ativo em relação a sua cotação máxima e mínima, em um período.
backtests: é uma forma de verificar estratégias, olhando dados históricos.
IBOV vs S&P500 (em Reais)
Aqui eu começo comparando Ibovespa e S&P500 – dois índices que representam o mercado brasileiro e americano, respectivamente. Nesse backtest, peguei apenas um período curto de 12 meses, justamente para pegar uma janela com período de forte stress.
Repara que nessa janela curta, o S&P500, em Reais, conseguiu superar em muito o Ibovespa. Aqui um detalhe interessante, que me chamou a atenção, é que ao ser convertido para Reais, o S&P500 teve menos volatilidade e maior ganho. Repara que o Real sofreu uma boa desvalorização ao longo dos anos.
A partir desses gráficos a gente pode chegar à uma primeira conclusão: se expor somente à ativos em Reais talvez não seja uma boa. Primeiramente, quando a volatilidade e o medo imperam no mercado, as pessoas partem em busca do porto-seguro, no caso o dólar. Logo, em momento de stress é bastante natural o Real desvalorizar, pois o Brasil é um país de risco.
Em segundo lugar, o Real sofre bastante desvalorização. O detalhe que nem estou olhando inflação, apenas o poder de compra em relação ao dólar.
Testes de possíveis exposições
Sabendo que se expor apenas ao mercado brasileiro – especialmente olhando IBOV- quais seriam então as possíveis alternativas? Primeira pergunta que me fiz foi: e se eu colocar 20% no S&P500?
Bom já é um bom começo, a carteira conseguiu melhorar a rentabilidade e diminui a volatilidade. A partir daí, parti para entender o impacto de diferentes configurações de alocações usando IBOV, S&P500 e o ETF SMAL11, fazendo backtests pra seis configurações de carteira:
- 100% IBOV
- 100% S&P500 (em Reais)
- 50% em IBOV e 50% S&P500
- 50% em SMAL11 e 50% S&P500
- 30% em cada
Drawdown e Sharpe
Ao que parece, o melhor retorno ainda é o S&P500. Porém, mais do que isso, é importante entender dois conceitos, além da Volatilidade, para chegar à conclusões: Drawdown Máximo e índice Sharpe. Você quer maximizar os retornos, diminuindo ao máximo as perdas.
- Drawdown máximo: é o declínio máximo, do topo até o fundo, durante um período. De modo geral quanto menor, melhor.
- Sharpe: usado para ajudar os investidores a entender o retorno de um investimento em comparação ao seu risco. Quanto maior, melhor.
Depois de rodado os testes, chegue às seguintes métricas abaixo:
Então, como vimos gráficamente, o melhor retorno anual no período estudado é do S&P500, em Reais. Porém, se você pensasse em minimizar os riscos e aumentar o retorno, talvez o ideal fosse uma composição entre SMAL11 e S&P500, pois essa composição de carteira teve uma combinação de retorno próximo da exposição 100% exterior, com a menor volatilidade e o maior Sharpe do estudo.
Conclusão
Como você viu, é importante para a carteira de longo prazo se expor à moeda forte, como o dólar. A economia no Brasil é mais frágil que nos EUA, e isso se reflete nas oscilações dos ativos e nos retornos de longo prazo quando comparamos os dois mercados.
Lembrando que isso não é uma recomendação – até porque é um backtest. Não há garantia que os retornos se repitam.
Gostou desse post? deixa teu comentário.