Existe benefício em uma empresa ter dívidas?

Empréstimos para empresas costumam ter custo diferente do que para pessoas físicas
Empréstimos para empresas costumam ter custo diferente do que para pessoas físicas

A gente acostuma a ouvir que ter dívida é sempre ruim. Mas será que é mesmo? Então, na verdade não, ter dívida é ruim quando o custo dela é maior do que o retorno dos projetos onde capital é empregado.

Para nós, pessoas físicas, certamente captar dívida para gastar ou investir em projetos de terceiros (como ações, Fiis e assemelhados) costuma ser inviável, dado os juros altos. Porém, para empresas, isso não costuma ser uma verdade absoluta, pois muitas conseguem boas taxas de juros, facilitando o uso de capital de terceiros no desenvolvimento de projetos altamente rentáveis.

Assim, empresas com alta rentabilidade conseguem maximizar o capital empregados pelos sócios, tomando dívidas e diminuindo o custo de capital. Além disso, existe o benefício fiscal, pois é permitido a empresa subtraia as despesas financeiras com a dívida do lucro operacional, o que diminui os impostos a serem pagos em cima das receitas geradas.

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Exemplo de estrutura de capital com e sem dívida

Você deve estar se perguntando como a dívida pode potencializar uma empresa. Nada melhor que um exemplo. Então, imagine uma empresa que possui R$10 mil de capital investido. Na primeira estrutura, somente os sócios entram com a grana, enquanto na segunda estrutura R$5 mil são em dívidas – capital de terceiros – com juros de 5% a.a.

Qual a vantagem da segunda em relação à terceira? Veja no quadro abaixo:

Estrutura de capital A:
R$10 mil dos sócios
Estrutura de capital B:
R$5 mil dos sócios e R$5 mil em empréstimos
Receita: R$2000
(-) Custos: R$300
(-) Despesas: R$200
(+-) Resultado financeiro: R$0 (sem dívidas)
= R$1500
(-) IR: R$450 (30%)
Lucro líquido: R$1.100


ROE: 1.100/10000 = 11%
Receita: R$2000
(-) Custos: R$300
(-) Despesas: R$200
Resultado financeiro: (-) R$50 (juros de 5%)
= R$1450
(-) IR: R$435 (30%)
Lucro Liquido: R$1.015


ROE: 1.015/5000 = 20%
Comparação de duas DREs com estruturas de capital diferentes

Com a estrutura de capital dependendo somente do dinheiro dos sócios, o retorno sobre o capital pertencente aos sócios (return on equity, ou ROE) é de 11%. Porém, quando a empresa possui metade em dívida de terceiros, sendo uma dívida atrelada ao juros de 5% ao ano, o capital dos sócios é “valorizado” ou “potencializado”, fazendo com que o ROE atinja a marca de 20%.

Além disso, repara que a empresa teve que pagar menor impostos, pois o custo da dívida acabou sendo abatido do lucro operacional, o que gera o tal do benefício fiscal.

Conclusão sobre dívidas

Então, um endividamento um pouco mais alto não necessariamente é ruim, pois depende de outros fatores. Assim, ao olhar a dívida de uma empresa você deve levar em conta a estrutura de capital pra entender os riscos (além da geração de caixa).

Abaixo, algumas questões que você deve considerar, como:

  • Qual custo dessa dívida?
  • Será que essa maximização do retorno do capital do acionista não envolve uma dívida complicada?
  • Será que não é melhor uma estrutura de capital que use mais os recursos dos sócios ao invés dos recursos de terceiros (dívida) ?
  • Será que a empresa consegue pagar essa dívida de forma tranquila? (Dívida líquida/EBITDA, EBIT/ Despesas financeiras, geração de FCO, etc.)

Além disso, nesse exemplo eu não cheguei a calcular o ROIC, um dos indicador que geralmente é utilizado para verificar se uma empresa tem um retorno operacional adequado nos seus investimentos, quando comparado com o custo da dívida.

Assim, procure ter um olhar mais apurado sobre a dívida, entenda os custos dela e o valor que ela gera (ou pode gerar). Você será um investidor melhor.

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