FOMO, emocional e por que eu fico de fora de IPOs

Quando eu ouço falar de IPO e me perguntam se eu vou ficar de fora, eu sempre lembro do final de ano.

Todo fim de ano é igual

Fim de ano chega e junto chega o tal bolão do ano novo, onde uma galera se junta e aposta na Mega Sena. Assim que chega dezembro o pessoal já começa a agitar. Alguns começam a se animar, se movimentam agitados, outros mandam pilhas de mails, fazem planilha pra ver quem vai participar, quem já pagou, etc.

Nisso, você, que odeia apostas e nunca participa, começa a sentir aquele medinho de não entrar junto. Mas ainda mantêm aquele sentimento que a chance deles ganharem é mínima, pois, convenhamos, jogando 6 número a chance é de UMA em 50 milhões! “Pô R$100 jogados fora”, você pensa.

Chega alguém gritando na sala: “Alguém mais aí vai participar? Hoje é o último dia pra entrar, o prêmio é 300 milhões”.

Pronto, era o gatilho que seu seu cérebro precisava. Você começa a refazer as contas da probabilidade de ganho, mais rápido e menos cuidadoso que o normal. Você só consegue pensar na situação que seria criada caso aquela galera ganhe o prêmio sem você: alguns entrando na sala do chefe pra mandar ele à merda, uns fazendo “pirocoptero” em cima da mesa, outros pulando e festejando. Pior de tudo, até o seu chefe apostou – ele tá louco pra ir morar numa praia paradisíaca e mandar tudo longe.

“E se acontecer?” – você pensa

Quando percebe já entrou no bolão, sem entender muito bem o porquê fez isso. Alguns dias depois vem o resultado: o mais perto que chegaram foi acertar 2 números de 6. Agora é tarde. Seus R$100 já foram embora e você tá se sentindo um idiota. A culpa é do FOMO.

FOMO (ou o gatilho da Mega Sena)

Eu nunca sofri muito com o gatilho da Mega Sena, ainda bem. Mas no mercado acionário algo bem parecido rola.

A “próxima ação explosiva” é a Mega Sena do mundo dos investimentos. Quem nunca aqui pensou em encontrar a ação que seria a próxima Magazine Luíza – ou manteve a esperança de uma grande valorização – que atire a primeira pedra. No mercado acionário, muitos investidores não querem perder a próxima ação explosiva (você já deve ter ouvido essa frase por aí) e isso cria o ambiente propício para o desenvolvimento do FOMO.

FOMO é uma sigla, que em inglês significa “The Fear of Missing Out“, o medo de ficar de fora, em tradução livre. Em investimentos, FOMO é nítido quando você compra uma ação, mas não faz isso porque a empresa é boa pra caramba – ou porque está impressionado com os números de crescimento, com a visão do CEO, com as vantagens competitivas – mas sim porque simplesmente sentiu vontade de seguir o rebanho e medo de perder uma oportunidade que eles possam estar entrando.

Emocional – uma arma do investidor comum

“O dinheiro de verdade não está na compra e venda, mas na espera.”

Charles Munger

Não importa o quão bom tecnicamente você seja ao analisar um investimento, não importa se você consegue fazer Fluxo de caixa descontado de cabeça (igual ao Buffett e Pabrai), você vai perder dinheiro se o seu emocional comandar seus investimentos.

Assim, um emocional pior que a média tende a trazer um retorno pior ainda. Esse é um dos itens que eu mais me esforço para ser acima da média, e isso vale tanto para investimentos quanto para a vida. Me esforço para ser um investidor com pensamentos de segunda ordem – mais racional- como diria Howard Marks.

Todo aquele meu primeiro ano e meio, investindo somente em queda brusca, fez eu domar uma boa parcela do emocional. Aqui fica uma observação: domar não significa que não sentir nada, mas sim deixar que esse sentimento passe, sem que interfira negativamente nas ações. Ter um emocional jogando a favor ajuda MUITO!

Se esforçar acima da média significa também abdicar de algumas coisas, o que pra mim também significa não investir em IPO.

IPO – um gatilho de FOMO

IPOs são eventos altamente impactados pelo emocional, e isso pode me incluir. Em um IPO você precisa ser “mais esperto que o Diabo” (me perdoa Napoleon Hill!), então é por esse motivo que eu gosto e uso a regra de Mohnish Pabrai e fico fora deles.

A regra de Pabrai

Em uma entrevista, perguntaram para Pabrai se ele possuía alguma regra para investir. Ele respondeu:

“Sim, então, há uma regra de investimento muito simples que sigo, que nunca é investir em qualquer IPO. Nunca me prejudicou seguir essa regra ao longo das décadas, e há uma série de razões pelas quais esse deveria ser o mantra da maioria dos investidores .”

Um pé atrás (ou até os dois)

Pense: você tem uma empresa, lucrativa. Você venderia ela por qualquer valor? e um valor baixo?

Como você sabe, em primeiro lugar, um IPO é uma empresa vendendo ações no mercado. De acordo com Pabrai, nessa situação quem tem maior controle da situação é a parte vendedora, a própria empresa. Assim, entre outras coisas, podem otimizar seus dados – mesmo que temporariamente – para maximizar os retorno que oferta publica pode trazer. Essa é a ideia da oferta, maximizar o retorno, seja qual for o destino da grana depois.

Por exemplo, se o mercado estiver aquecido para imóveis, não por acaso você verá muitos IPOs de construtoras por exemplo. É muito mais difícil você ver IPOs em épocas de preços de mercado desaquecidos, pois o retorno para a empresa seria fraco. Portanto, as empresas sabem como funciona o mercado, que é movido a “leilões”.

Os preços podem ir aos dois extremos. O mercado às vezes fica muito eufórico e às vezes fica muito pessimista. Como investidor você pode tirar vantagem quando as coisas ficam pessimistas, e até ser um vendedor quando as coisas ficam eufóricas demais (seria aqui então uma bela hora para um IPO).

Além disso tudo, há muito sentimento envolvido nesses momentos e as partes relacionadas à venda estão cientes. Um bom vendedor precisa saber quebrar objeções, criar expectativas, fazendo diversos gatilhos disparar – entre eles pode estar o nosso amigo, o FOMO. O livro “Armas da Persuasão” fala bastante sobre isso.

Conclusão

Eu acredito que, como investidor individual, é bem difícil detectar possíveis problemas em empresa abrindo capital. Pode haver sobrepreço devido o sentimento de FOMO e não há resultado disponível. P

Se o sentimento de perder uma oportunidade aparece? Às vezes, mas eu lido bem com ele. Existe uma infinidade de empresas para se investir e tenho tempo suficiente para as coisas ficarem mais claras. Quem sabe esperar uns três trimestres ou mais? Acho razoável. Investir é um jogo infinito.

Então, pode parecer uma regra besta, mas particularmente eu evito IPOs – e parece que tô acompanhado de alguns grandes investidores.

E você, possui alguma regra?

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